sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Pneumo

Já faz um tempo que não posto então aqui vai um resuminho do que vem acontecendo na minha vida de Interna.
Nesse mês de fevereiro estou rodando no serviço de pneumologia. Tive dificuldade de adaptação nas primeiras semanas pois eu vinha de um serviço onde tudo era muito organizado, prontuário impecável e pessoas super acessíveis e simpáticas e cheguei em um que as coisas não andam tão bem assim e a enfermeira de uma das enfermaias é de uma antipatia viu?

A própria especialidade não me emociona nem um pouco. Asma, DPOC, doenças interticiais, câncer de pulmão... 
O horrível é que na maioria dos casos são pessoas que causaram aquele mal a elas mesmas. Dá pena de algumas delas, mas na maioria você olha e não consegue sentir nem pena. Meio amargurado esse meu comentário né? Desculpem, mas estou meio desiludida esse mês.

Como eu já disse a adaptação foi difícil, as coisas só começaram a melhorar na segunda semana com a efetiva entrada dos residentes, que discutem os casos com gente fazendo com que a gente tenha alguma instigação em ir pra lá.

Tive um paciente que é era um fofo, o sr.George. Câncer de pulmão já com metástese de coluna. Ele ficava restrito ao leito e tomando uma medicação contínua na veia muito forte pra dor. Chegou a ficar desorientado e arrancou todos os acessos venosos dele, ficando impossibilitado de receber a medicação e por consequência sentindo muita dor. 
Ao chegar na segunda feira, umas 2 semanas atrás, ele estava lívido, com fácies de dor e sem verbalizar direito. Depois de conseguirmos fazer um outro acesso central(pedido em um dia e feito 3 dias depois por falta de médicos na emergência para fazê-los) ele voltou a ter o remédio infundido pela veia e passou a verbalizar melhor, mas sem perder a desorientação totalmente, ficava contando continuamente.


Nessa mesma semana, mais precisamente na sexta, fui até o leito dele e perguntei a respeito da sua grande paixão, o xadrez. Ele abriu um sorriso enorme pra mim. Fiquei tão feliz em poder ter dado um pingo de alegria para aquele homem que tanto estava sofrendo. Ele me fez dizer como cada peça andava no tabuleiro e sorria pra mim a cada peça que eu acertava a movimentação. Saí de lá prometendo voltar com um xadrezinho para que ele jogasse comigo. 

Segunda quando cheguei recebi a notícia que ele havia falecido sábado 5:40 da manhã. Apesar dele ter falecido me encheu de conforto saber que havia parado de sofrer, mais ainda quando pude parar e pensar que a última coisa que lembro do "seu George" foi o sorriso largo que ele me deu naquela sexta. Nunca cheguei a jogar xadrez com ele...

Sei que é um clichê muito grande, mas é muito correto: 
"Ame como se não houvesse amanhã...".
Amanhã pode ser muito tarde para você dizer a alguém que a ama.

3 comentários:

  1. Lendo esse seu diário, me lembro muito de algumas aulas de psicologia da saúde e psi. hospitalar. Imagino o quanto verdadeiro deve ter sido o sorriso do Sr George quando você se dispôs a conversar com ele e a tratar de um assunto que pra ele era por demais prazeroso.

    Parabéns por estar com paixão nesta profissão e por compartilhar suas experiências por meio deste blog ;)

    Bjins e até mais ver o/

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  2. aain..deu até vontade de chorar!
    adorei, Sam..
    muito gratificantes essas experiências,né?

    beijão!
    =*

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  3. Ain Samantha, lagriminha nos olhos... =~ Adorava o Seu George, foi meu paciente por um mês e eu vi o dia que ele "descobriu" que tinha câncer e desistiu do tratamento. Mesmo nos dias de muita dor até achar a dose certa do fentanil ele era simpático comigo...Fiquei arassada quando vi a mensagem que você mandou avisando que ele havia falecido =~

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